que sabes
do verso
que é sentido
do amor
que é só
Inez Andrade Paes in todos os dias - 21 de Março de 2024
que sabes
do verso
que é sentido
do amor
que é só
Inez Andrade Paes in todos os dias - 21 de Março de 2024
parto à morte que me cerca
parto à morte
que me cega
nestas águas transparentes
Quatro primeiros versos do poema com o qual colaboro em: "Humuvia" Antologia poética organizada por F. Domene, S. Aguaded e D. Pérez Venegas; Palabras Mayores – Editorial Alhulia, Granada, 2023 (p.35)
A Luísa Demétrio Raposo pelo seu livro “O Fogo do Fogo No Fogo”
erupções voluptuosas
que se tresmalham entre a suave
pétala
e a crueza carnal de lasciva súplica
incompreensão ?
serão palavras as culpas de um corpo
que se desnuda e a social ética
sobressai gela entre olhares de dúvida
e a vermelhidão espásmica alterando o sangue
em desvario
comam e bebam sem descanso lambam as carnes menos insanas
toquem todos os sinos
Inez Andrade Paes
em baldio se deita a terra de lavra inteira
Primeiro verso do poema com o qual colaboro em: "O Sangue dos Rios - Poetas celebram Fernando Namora" - Antologia poética organizada por Pedro Miguel Salvado, António Lourenço Marques e Carlos d'Abreu; Edição da Câmara Municipal do Fundão, 2019 (p.51)
Incontro con la poesia di Inez Andrade Paes, traduzioni e critica poetica di Yuleisy Cruz Lezcano
in É o teu rosto fecundo entre bivalves, Revista Caliban, 2017
Leitura do livro "Serão os Cisnes que Voltam?" de Alfonso Pexegueiro
No amanhecer, não são só os pássaros que chegam para cantar, o som recortado pelo traço do paralelo em que assenta a curva da roda do carro de bois, também adianta o dia.
Vacas e bois são quem puxa. O cheiro característico que os segue é fardo que nos guia até eles. Umas vezes cheios, outras vazios, os carros aumentam o som no espaço.
No corpo limpo ou marcado, pelas crostas de bosta seca, o pêlo avermelhado ou malhado a branco e preto, tão daqui, deste lugar onde a Ria entrecorta o chão e avança lentamente com seus braços de água.
Em junta seguem os animais sob o jugo de madeira lavrada que assenta nos robustos pescoços ligados por brochas e figuras geométricas, a talha já tão macerada por anos de trabalho.
dois bois de olhos grandes
um homem calçado de socas e uma longa vara
o ritmo de todos
faz a música do dia
as patas dos animais pousando conforme a carga
o toque da vara no lombo dos bois
as socas a bater no granito os olhos dos três
encerram
um pensamento vagaroso e belo
anunciam
mais um dia de trabalho
Inez Andrade Paes
leio o que me pertence
e de mim
transparente
água
Inez Andrade Paes in Todos os Dias
uma
mulher cega pega na minha mão
e
todas as pontas
dos
seus quatro dedos da mão direita
percorrem
as linhas da minha
como
sílex que corta um caminho no chão
calada
oiço a sua respiração
vejo
os seus olhos parados
por
cima do interior das pálpebras
como
se a leitura lhe indicasse
todo
o meu passado
respira
fundo
fecha-me
a mão e sorri
fechando
em si a sua mão e dentro dela
toda
a poeira inscrita
nas
palavras que me deixam transparecer
todo
o amor
Inez Andrade Paes
(Todos os Dias 25 de Agosto de 2019)